Ano novo, tudo igual, tudo diferente
Poesia sobre o que termina e volta a começar
Dezembro sempre esteve acompanhado por uma mística sensação de fim de ciclo para mim. No último mês do ano eu tenho esse feeling frequente de que estou por recomeçar, de que em questão de semanas estarei dando largada novamente. De que tudo poderia ser diferente.
É energizante!
Toda essa expectativa culmina na noite do dia 31, quando muitos vivemos uma das minhas tradições favoritas. Na virada do ano eu amo estar com pessoas especiais, compartilhar a ceia, vestir branco, fazer a contagem regressiva até o relógio avisar que chegamos ao futuro e entre abraços desejar a todos um feliz ano. Como se a passagem do 31 ao 1º fosse uma viagem e o destino que nos espera estivesse cheio de novas possibilidades e renovação.
Para mim, Ano Novo sempre foi sinônimo de poesia. Cada sorriso, cada abraço, cada uma das sete ondinhas e cada um dos lampejos de fogos artificiais que cruzam o céu são como rimas. Cada momento vivido com tanto amor e alegria é uma estrofe que compõe a intricada beleza dessa noite mágica.
Pois bem, hoje é dia 30 de dezembro de 2018
Amanhã estaremos celebrando outro reinício. E embora falte pouco mais de 24 horas para uma das minhas noites preferidas do ano, não estou tão animada como na véspera de outros Reveillons. Na realidade, há alguns dias venho sofrendo com um problema de saúde que tem deixado meu humor muito pouco “ano-novesco”. Com a doença veio a dor, e não há nada de poético nela. A dor é algo cinza, concreto, frio, um lembrete constante que infelizmente nem tudo na vida é poesia.
Enquanto sinto esse desconforto, me forço a fazer repouso e tomar os vários medicamentos que tenho na mesa de cabeceira, ao mesmo tempo sinto esmorecer a emoção de estar próxima de um novo ciclo. Nessa negatividade, me pego pensando que toda essa ideia de recomeço é blábláblá.
Quando chegar meia-noite amanhã, tudo continuará igual
A mesma vida, o mesmo trabalho, os mesmos problemas. A dor que sinto agora talvez diminua até amanhã, mas ainda estará aqui. Ainda vai doer, como um lembrete bem contundente de que as coisas não são magicamente transformadas na virada do ano.
Me sinto ultrajada. Teriam sido todos aqueles outros Reveillons pura mentira? As 25 viradas de ano que vivi até hoje, foram reais ou enganação? Me lembro de tanta beleza e esperança, será que esses sentimentos foram pura infantilidade?
Não sei. Não quero pensar assim. Até porque já sou bem grandinha e no fundo entendo que não é que algo tenha mudado drásticamente na minha vida nas passagens de ano que presenciei. Mas acredito sim que mesmo em meio a tantas coisas que permanecem, algo insiste em ser diferente. E por isso chego à conclusão de que talvez a única mudança real dessa noite brilhante aconteça dentro da nossa cabeça.
Quando chegar meia-noite amanhã, tudo será diferente, somente porque escolhemos pensar que sim. A singela emoção de terminar um ano e começar outro já é suficiente para dar impulso a nossos sonhos e nas ações que precisamos tomar para alcançá-los. Talvez essa seja a verdadeira magia do Reveillon.
Mesmo assim, hoje não consigo ser muito positiva. Não estou com vontade de pensar no futuro, fazer planos, definir metas. Estou atrasada, 2019 está logo aí e eu ainda não tenho minha listinha de resoluções! A verdade é que a poesia em mim está em falta. Preciso recuperá-la, inspirar-me de novo...
Para isso, vou colocar o vestido branco, preparar os quitutes, ver os fogos que cruzam a noite… Mesmo com um pouco de dor, mesmo sem poder brindar com champanhe, mesmo longe de casa. Quando a primeira badalada da meia-noite soar, tudo isso vai parecer pequenino perto dos abraços e desejos sinceros de felicidade. As rimas vão se costurar ao meu redor, e será impossível não ser parte da melodia. Tudo continuará igual, mas eu não serei mais a mesma. Haverá poesia em excesso ao meu redor para não me contagiar com um verso ou dois.
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