Autorretrato

Regiane Folter
3 min readJun 3, 2024

--

Sou branca, me identifico como mulher, na casa dos 30. Sou brasileira e se nota na forma de falar e de sorrir. Tenho uma cara redonda, com um início de papada que me faz sentir mal de vez em quando. Assim como a barriguinha saliente e as coxas grossas. Não são curvas normalmente associadas à beleza e sim a descuido. Mas o que posso fazer, se gosto tanto de comer uma comidinha deli e tomar uma cervejinha gelada?

Voltando ao rosto. Algumas coisas por lá são herdadas. O cabelo castanho cacheado veio da mamãe. Os olhos azuis são presente do vô paterno. O dente da frente torto (que corregi aos 15 com o aparelho) veio do meu pai. O resto não sei, mas pode ser que veio de algum ascendente que não conheci.

Acho que meu nariz, orelhas e boca são bastante comuns. Não tenho sardas (o que gostaria) e sim olheiras (que detesto). Aprendi a gostar de skin care recentemente e desfruto dos minutos que dedico pra passar creminho com protetor solar (de manhã) ou com hidrante (de noite).

Descendo pelo pescoço, ombros, peitos, costas. Tudo bastante corriqueiro. Uma pinta aqui e ali, e a cor da minha pele muda de tonalidade dependendo de como me queimei e que camiseta estava usando. Minhas mãos são pequenas, prefiro unhas curtas, quase nunca as pinto. Em meu pulso posso ver as veias azuladas pulsando.

Sigo o caminho. Barriga, ventre, colo, bunda. Aquele punhadinho de estrias e celulite. Pernas não muito longas que carregam os meus 1.65 de altura pra lá e pra cá. Pés finos. Grande pró: calço o mesmo número que mamãe, o que nos permite intercambiar sapatos com facilidade. Quase todos os dedinhos dos meus pés são meio que voltados pra dentro, engraçado. Tenho poucos pelos no geral, e a maioria deles são loiros. Mas não consigo evitar depilar as pernas, a virilha, as axilas, onde pelos negros e grossos insistem em se expandir como mata selvagem.

Essa sou eu. Ou, melhor, essa é minha casca. Uma parte minha, importante sim, mas não é tudo. Esse é o envoltório que protege o lado de dentro, órgãos, veias, músculos. E logo, por detrás de tudo isso (ou bem dentro, não sei localizar), está o âmago.

Seria alma, essência, algo assim? Só sei que há algo mais que fez de mim quem sou, algo que assumo ser invisível e talvez indestrutível. Personalidade, crenças, traumas. O lugar onde sinto o que o cérebro processa, que se alimenta da minha existência e, em constante movimento, reinventa diariamente minhas ideias e atitudes.

Meu corpo mudou com os anos e continua mudando. Infelizmente, continua morrendo, assim como qualquer ser humano. Meus órgãos trabalham sem cessar, o sangue corre diligentemente, tudo que sou se move e realiza o que é necessário para que eu permaneça viva, pelo tempo que puder. Mas também sei que só estou viva porque tenho gana de viver, sonhos, amores, medos e todas essas outras coisas que habitam meu lado mais interno.

Somos uma combinação de capas, camadas de existência que somente assim, juntinhos e trabalhando em equipe, nos mantêm respirando. Se um desses níveis se desequilibrar, o perigo é real.

Por isso, tento cuidar de mim. Do meu corpo externo e do que está lá dentro. Tomo bastante água, como coisas saudáveis, evito o sol sem protetor solar. Vou no médico regularmente, faço exercício. E também protejo a parte oculta com as ferramentas que tenho: indo na terapia, escrevendo, desabafando. Fazendo aquela manutenção emocional e mental tão necessária quanto a física.

Somos magia pura, pedaços únicos que se conectam e têm o poder de nos brindar vida, sobrevivência. Mas temos que fazer a nossa parte também, e conhecer quem somos e como cuidar de nós é tão fundamental quanto existir.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe alguns aplausos 👏

Outras histórias e meus livros em: regianefolter.com 💛

--

--

Regiane Folter

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros