Consequências das férias de escrever

Faz tempo que não escrevo

Regiane Folter
3 min readSep 21, 2023
Photo by Marcos Paulo Prado on Unsplash

Logo, me sinto inchada, pesada, grávida de palavras-gêmeas, todas diferentes entre si, mas ainda assim parecidas. Afinal, provêm do mesmo ventre. Do mesmo cérebro.

Não escrever foi intencional, não uma coincidência. Tomei férias da escrita porque precisava descansar a mente e o pulso. A caneta e o caderno ficaram em casa e eu fui embora. Mesmo sabendo que era necessário me afastar, não consigo evitar o questionamento:

Como posso dizer que sou escritora e precisar dar um tempo do escrever?

Talvez isso seja prova de que não sou boa nisso. Escritora que é escritora nunca se cansa das palavras. Não é?

Tô tentando fazer as pazes com o fato de não ser boa. Com a ideia de não ser grande e de que escrever sempre foi e sempre será algo só para mim. Atividade que realizo com o simples objetivo de me desinflar, de encontrar paz. Afinal de contas, foi assim que tudo começou. Escrever era escapar, melhorar, dissolver. A vida era mais simples naquela época, e eu era mais feliz em alguns aspectos.

Hoje, no presente, escrevo depois desse período de férias e dou vazão às ideias acumuladas. Até porque embora não tenha escrito, nunca deixei de pensar. Não escrevi, mas sonhei. Não escrevei, mas imaginei. Não escrevi, mas multipliquei histórias, que são formadas por cenários, que são habitados por personagens, que por sua vez têm uma variedade de características, que no final de contas se resumem a uma só coisa. Palavras.

Palavras que descrevem, explicam, alimentam. Palavras que geram palavras que se propagaram aqui dentro, como erva daninha que toma conta do jardim negligenciado.

Nessas horas, penso que deveria tomar conta melhor do que se passa internamente, no meu jardim. Assim, não ficaria nesse estado, dopada de palavras, com perigo de ficar constipada. Tendo a ser hipocondriáca, assim como tendo a me obsessionar com as coisas. Por isso acho que escrevo com tantas vírgulas e tantas repetições. Tendo a remoer, a visualizar o mesmo momento de novo e de novo e de novo e uma vez mais, para dissecá-lo, para imortalizá-lo.

Como podem ver, escrevo muito sobre mim. Outro sinal de que não sou boa nisso: escritores que são escritores falam mais sobre os outros do que deles mesmos. Ou talvez estejam falando sobre eles mesmos o tempo todo, mas de uma forma tão cuidadosa que os outros se sentem totalmente identificados.

Escrevo muito sobre mim porque assim comecei a escrever. Primeiro foi brincadeira e logo se transformou em terapia. Escrevo para aliviar, para encontrar leveza, para parir essas palavras-gêmeas que machucam, alegram, glorificam, maltratam, explodem, apagam. Todas diferentes e todas levemente parecidas.

Escrevi tanto que desidratei. Cansei o braço e a mente, me sinto vazia, inabitada, quase prestes a flutuar. As palavras foram embora e posso ver as coisas com mais claridade agora que exorcizei o que precisava mandar pra fora.

Quanto tempo aguentarei até a próxima vez?

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏

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Written by Regiane Folter

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros

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