Corpo em guerra
Uma bola irritante parece ocupar toda a minha garganta
Não consigo engolir nem saliva. Uma sensação de queimação sobe e desce pelo meu corpo, como se eu tivesse comido algo que caiu mal. Mas não foi comida o que provocou esse incômodo. Foi algo muito mais subjetivo.
Tenho vontade de chorar, mas não consigo. A sensação de choro sem lágrimas, só aperto no coração, é muito incômoda. Às vezes — como agora — vira vontade de vomitar.
Uma massa invisível de peso desconhecido, mas significativo, pressiona meu peito. Dói. O pior não é a dor, mas sim a sensação de desespero. Desprotegida, permito que uma emoção sombria tome conta de mim. Não é bem uma única emoção, na realidade. São muitos sentimentos encontrados, que se movem rápido e se chocam entre si. Ansiedade, medo, culpa, raiva, tristeza. Tanta tristeza…
Não sei como me sentir melhor. Bom, na realidade sei o que devo fazer. Sei que tenho que seguir em frente, mesmo sentindo tudo isso. Sei que não posso sucumbir. Sei que preciso ser forte, ocupar a cuca, me dedicar aos meus afazeres pra não pensar tanto. Overthinking, o mal da nossa geração. Sei que tenho que cuidar de mim, cuidar de quem depende de mim, e ter fé. Como é mesmo aquela frase? Aeitar o que não posso controlar e fazer o meu melhor com aquilo que posso.
Eu sei tudo isso. E até faço. Me esforço, vou lá, apareço. Mas, por dentro, continuo em ruínas. Suponho que é assim mesmo. Faz parte.
De vez em quando, porém, respiro um pouco mais fundo e o ar que entra parece abrir caminho entre tantos obstáculos. Me permite estirar as costas, inflar o peito, sentir que estou viva. É como se o oxigênio desvanecesse toda aquela massa de sentimentos negativos e o coração voltasse a bater em ritmo normal. Dura pouco, mas é o suficiente para que eu não enlouqueça. É a medida exata para que eu continue seguindo em frente, tentando, lutando para não desmoronar.
Junto meus pedaços partidos com cola e um restinho de esperança. Não sei bem porque insisto. Não sei. Só sei que algo dentro de mim insiste em me empurrar para frente. Uma sensação de que não podemos deixar de seguir, de lutar, de tentar. Porque mesmo submergida em tanta coisa triste, ainda existem coisas que me fazem sorrir. Porque a felicidade, quando a encontramos, é uma benção que apazigua todas as dores.
Por que seguir? Porque sim. Porque se eu não tivesse seguido depois da minha primeira grande dor, não teria vivido tantas coisas lindas. Não teria conhecido tantos amores. Não teria colocado meu grãozinho de areia nesse castelo frágil que é o mundo. Não teria ajudado quem ajudei, nem aprendido a partir das ajudas que foram destinadas a mim. Porque aqueles que se vão querem que a gente siga, querem a nossa felicidade também. Eles vão continuar vivos por meio dela.
Sofrer é consequência natural de amar demais, querer demais, viver demasiado. E olha, vale a pena pagar o preço, viu.
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