De vez em quando me detesto
Um dos amores mais difíceis de todos é, sem dúvida, o próprio
Às vezes me assusta o apego que tenho em me detestar. Odiar já não, ainda que tenha me odiado quando era mais jovem.
Hoje em dia está mais pra uma aversão, uma antipatia. Me olho no espelho e torço o nariz, não para o que vejo porque (ainda bem) já superei muito da minha autodepreciação física. Detesto coisas minhas que não se podem ver, coisas que carrego dentro, na alma. E que são infinitamente mais difíceis de mudar.
“E será que tem que mudá-las?”, perguntaria minha psicóloga. E eu fingiria que não ouvi e continuaria fazendo as mesmas coisas. Tendo os mesmos maus hábitos. Implicando com as mesmas coisa. Desejando tantas vezes ser uma pessoa diferente.
O pior não é isso, acredite se quiser.
Não só detesto alguns dos meus traços, como também me comparo com pessoas que são do jeito que eu queria ser. Olho pra elas, régias lá nos pedestais onde as coloquei, e admiro sua graça, sua capacidade, sua força. Com isso, me sinto ainda mais risível, pequena, desajeitada.
Nunca diria pra ninguém as coisas que digo a mim mesma. Nem mesmo pras pessoas mais horríveis que já passaram pela minha vida. Guardo essa habilidade especial de desprezo somente pra euzinha aqui.
Como pode ser tão difícil se querer bem…
Pelo menos é assim pra mim. Pra vocês como é?
Será que também têm dificuldade em se ver com carinho e respeito? Ou será que pra vocês nada disso têm sentido, porque conseguem se amar com a mesma facilidade com a que amam as pessoas ao seu redor?
Será que já foram como eu e descobriram o caminho pra sair desse buraco? Podem me ensinar?
Preciso admitir que já aprendi muito. Já não sou tão cruel comigo mesma. Muita conversa, leitura e reflexão me ajudaram a avançar. Hoje, já não odeio meu corpo. Hoje, já aceitei muitas características minhas que antes abominava. Hoje, reconheço as que faltam aceitar e sei que preciso continuar tentando.
Hoje, me quero um pouco mais que ontem.
Mas ainda continua sendo difícil.
Ainda continuo procurando a forma de me apaixonar por mim mesma, com todas as qualidades e defeitos que carrego.
Ainda continuo sonhando com o dia que vou me olhar no espelho e só sentirei compaixão.
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