Escapando em uma história
Quando eu era pequena, antes de dormir eu brincava de inventar histórias na minha cabeça.
Me deitava, me cobria, fechava os olhos e o quarto na penumbra desaparecia para dar lugar a um mundo de espetaculares cores. Eu liberava todo o espaço da minha mente para minha imaginação e criava histórias de magia, de princesa, de bruxa, de todos os monstros e heroínas que estivessem habitando minhas ideias naquele momento. Eram enredos completos, complexos. Havia diálogo, amor à primeira vista, grandes atos heroicos e tramas mirabolantes.
Às vezes a história ficava tão boa que eu demorava para dormir, tamanha a vontade de saber como terminava. Muitas vezes eu adormecia no meio do caminho e a aventura se perdia nas névoas do sono. Me pergunto quantas histórias não terei criado e esquecido só com essa brincadeira.
Conforme ia crescendo, esse costume de dormir inventando histórias foi minguando. Mas a mania de inventar moda nunca foi embora. Comecei a escrever mais, pra não perder as boas ideias no esquecimento. Além disso, desde adolescente me acostumei a imaginar cenários alternativos de coisas que gostaria de fazer na minha própria vida, saindo da pura ficção para tornar as aventuras mais biográficas. Até hoje me pego pensando no futuro e como eu seria heroína das minhas próprias tramas quando saio para caminhar, dentro do ônibus, enfim: em momentos em que minha mente está em branco.
Ultimamente, voltei com a mania de criar histórias antes de dormir. Tal qual como quando era pequena, me acomodo na cama e ao fechar os olhos não desligo a máquina: deixo o cérebro funcionando e imagino. Imagino outros mundos, outras realidades, outras vidas. Algumas vezes sou eu o personagem principal, outras vezes são novos heróis. Também percebi que estou muito mais “consumidora” de histórias que o normal. Além da criação de histórias noturna, estou lendo mais que nunca. Jogando um joguinho no celular que também se trata de criar historias. Vendo maratonas de séries. Ou seja, com tantas histórias que não a minha habitando meus pensamentos, não sobra tempo para refletir sobre o que não quero. Estou viciada, e consumo toneladas e mais toneladas de enredos, de clímax, de desenlaces — nenhum deles é real, todos eles me amortecem.
Minha conclusão com isso tudo é que estou usando histórias para escapar. Capaz sempre usei. Capaz desde pequena é a maneira que encontrei para suavizar a tristeza, a frustração, o cansaço de uma realidade difícil. Pensar menos nas coisas erradas da minha realidade, e mais no romance, no drama, no suspense alheio. Simplesmente porque essa prática faz doer menos. Ainda assim, hoje eu sei que à largo-prazo vai doer mais: em algum momento a avalanche de coisas mal-resolvidas vai surgir no horizonte e não há história no mundo que seja grande o suficiente pra me esconder.
Amo histórias, e tê-las com frequência no meu dia a dia é parte de quem sou. Mas entendo que a história que mais conta é a minha, é o que eu vivo, é o que eu sinto. Então tomei uma decisão: quero ter espaço para perder-me nas histórias imaginadas, tanto as minhas como as dos demais; mas também quero dedicar tempo e energia para refletir sobre o meu trajeto, o meu enredo, para tomar melhores decisões e crescer como pessoa. Como heroína da minha própria aventura.
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