Mochilas emocionais (e invisíveis)
Gosto mais de mochilas que de outros apetrechos com função similar
Bolsas ou pochetes não me convencem tanto. Acho que a mochila cumpre melhor o objetivo de armazenar coisas porque oferece mais espaço e também é mais confortável. Esteticamente talvez não seja a coisa mais linda do mundo (pelo menos a minha mochila multiuso atual não é nada charmosa), mas já faz um tempinho que tô priorizando praticidade over beleza, então me sinto satisfeita.
Já tive mochilas de vários tamanhos e cores. Mochilinhas fashion, daquelas bem lindinhas que são só aparência e pouco espaço. Mochilas grandes e simples, daquelas que aguentam o peso que for. Mochilas de rodinhas, cheias de cor e glitter. Mas ultimamente, além da mochila marrom velha de guerra que uso pra andar daqui pra lá com o computador e coisinhas do job, também tenho carregado algumas mochilas invisíveis.
Estranho, eu sei.
Mas outro dia na terapia a psicóloga usou esse termo, mochilas emocionais. Coisas que a gente carrega nos ombros sem ver, mas sentindo 100%. Essa conversa com a psico me deixou reflexiva. Abri a porta do armário e de repente vi a quantidade de mochilas variadas e invisíveis que tenho. Parece coisa de colecionadora! Foi assim que decidi colocar em palavras (e um pouquinho de cores) as mochilas emocionais que carrego por aí.
Mochila da culpa
Uma mochilinha que olha, não tiro dos ombros PARA NADA!! É nela que levo as minhas maiores decepções comigo mesma. Sinto culpa pelas coisas mais variadas possíveis. Culpa por não ser mais e melhor. Culpa por não fazer o suficiente. Culpa pelas coisas ruins que aconteceram e não pude evitar. Culpa por não estar. É uma mochila pequenina, tão pequenina que às vezes até esqueço que está lá. Mas o seu peso considerável sempre me faz lembrar da sua existência. Um pontinho negro nos dias mais brilhantes. Um lembrete constante de todas as minhas falhas.
Mochila da tristeza
Essa parece com uma mochila fofa que tive uma vez. Era de veludo azul, linda, do tamanho ideal pra todas as coisas que eu precisava carregar por aí. Perfeita! Um dia, num assalto, levaram essa mochila embora e talvez por isso mesmo eu a associe a mochila da tristeza, porque foi uma das muitas coisas que perdi e doeu. Carrego nessa mochila lembranças de pessoas, pets, ideias e até mesmo versões minhas que em algum momento partiram. Cada uma dessas memórias produz em mim um sentimento de desamparo, de solidão. Ainda to aprendendo a lidar com o que essas perdas geram em mim.
Mochila do cansaço
Alguns dias essa mochila está tão cheia que tenho que arrastá-la porque meus ombros doloridos já não aguentam mais. Resultado de muitos dias tendo e executando ideias, é uma mochila simpática à primeira vista: possui várias cores e marcas, pins de todos os universos por onde andei, vestígios dos sonhos que me esforço tanto para realizar. Tá meio sujinha inclusive, porque já levei a danada pra cada lugar… Mas com cada passo dado, com cada minuto menos de sono, com cada crise de ansiedade, essa mochila vai ficando mais e mais pesada. Sempre tive o costume de vê-la como um troféu das minhas conquistas, mas hoje em dia me forço pra deixá-la de lado e não associar esgotamento com sucesso.
Mochila da saudade
Essa peça já está bastante velhinha, totalmente fora de moda. Quando abro essa mochila para olhar no seu interior, vejo que o pó tomou conta. É uma coisa antiga porque a saudade é um velho sentimento que carrego comigo porque aprendi a estar longe de alguns dos meus maiores amores. Tudo começou quando tinha 17 e deixei a casa da mami pra estudar em outra cidade. Hoje, mais de 10 anos depois e muitos quilômetros caminhados, essa saudade muito bem alimentada duplicou de tamanho. Sinto falta de pessoas, de gostos, de abraços, de sons, de paisagens, de momentos. Com o tempo, aprendi a lidar com a saudade e canalizá-la em coisas positivas. Rememorar ocasiões felizes com alegria, esperar com otimismo por momentos de encontro. Porém, às vezes, em dias difíceis e noites insônes, essa mochilha tão velha companheira se transforma em um monstro assustador e lamento tudo que não estou vivendo, tudo que escolhi não viver, por estar longe.
Mochila da dúvida
E se der errado? E se machucar? E se eu me envergonhar? E se descobrirem que na realidade não sei nada? Todas essas e muitas outras dúvidas são o que empanturram essa mochilhinha inflável que cada tanto carrego nas costas. Indecisões, medos, cenários infinitos, milhares de repercussões possíveis. Nas decisões mais importantes ou mais banais, minha mente faz um milhão de contas (que eu, boa pessoa de humanas, nunca imaginei ser capaz de fazer) para tentar prever o melhor resultado. Falho miseravelmente, claro. Termino desgastada, comendo a cutícula, revivendo algum tique nervoso, só pra ver que o desenrolar daquela situação era muito mais simples do que eu imaginava.
Mochila da ansiedade
Minha velha amiga ansiedade foi quem me deu de presente essa mochila. Bastante sem graça, cinzenta, e com um formato de pouca utilidade. Mas a bichinha tem algo que me atrai e, sem perceber, quase sempre eu termino colocando ela nos ombros. Não levo nada dentro, mas não é fácil tirá-la. Parece que a danada se cola em minhas costas e vai me apertando, me forçando a me encolher, a criar uma corcunda como se carregasse o mundo nas costas. Quando coloco essa mochila, não consigo pensar com clareza. O cérebro pisa no acelerador e vou a 500 km/h, saltando de pensamento em pensamento, ideia em ideia, plano em plano, sem conseguir me concentrar em nada. Além disso, esse constante pensar está em envolto em uma névoa de incerteza, insegurança, receio. Sinto que vou falhar em todos os aspectos da minha vida. Sinto que não vou conseguir nada do que quero porque me falta tempo, habilidade, talento…
Essas são algumas das mochilas emocionais que tem pesado aqui nos meus ombros nesse último tempo. Cada uma do seu jeito, cada uma com sua razão. Provavelmente eu encontre mais mochilas invisíveis se continuar escavando o guarda-roupa e pretendo fazer isso mesmo. Chega de acumular coisas sem sentido! Quem sabe começar a enxergá-las seja o primeiro passo para me desfazer de algumas delas ou pelo menos transformá-las, customizá-las, deixá-las mais com a minha cara.
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