Propósito em excesso, propósito perdido
Como viver com propósito sem me tornar prisioneira dos objetivos?
Sempre acreditei que é fundamental ter um propósito na vida, mas às vezes me sinto prisioneira das minhas muitas metas. É mais ou menos assim: gosto de ter razões para tudo e preencho meus dias com metas a alcançar e to do lists a cumprir. Mas em alguns momentos meus objetivos me pressionam ao invés de inspirar e perco o foco.
Para que era que queria fazer tudo isso mesmo?
A primeira vez que eu me lembro de ter definido um propósito foi no último ano do Ensino Médio, quando estudava 12 horas por dia com o objetivo de passar no vestibular. Já na faculdade, me apaixonei pelo curso e pela sensação de responsabilidade que a vida de adulta recém-conquistada me dera. Então me meti em todos os projetos de extensão que pude e rapidamente me viciei na loucura do multitasking. Naquela época, passei a ser voluntária em uma organização internacional de jovens líderes que se centrava justamente no propósito de realizar um impacto positivo no mundo.
Desde então, tento encontrar sentido para tudo que faço e gosto de me re-inventar, planejar e definir metas tanto para realizar sonhos pessoais, como para contribuir com o mundo ao meu redor. Sim, eu acredito que ter propósitos faz de mim uma pessoa feliz e, ao me esforçar para chegar nesses objetivos, me transformo, me entrego, cresço. Mas também sei por experiência própria que existe uma linha muito delgada entre propósitos que motivam e propósitos que esmagam.
Como o excesso vira um problema
Utilizando meu objetivo de ser uma escritora melhor, nos últimos anos me dediquei a aumentar as horas que reservo no dia para escrever. Organizo meus focos e em alguns dias escrevo, em outros edito histórias prontas ou faço difusão do que já está publicado, e assim vamos. No geral, me sinto bem com essa rotina. Mas, algumas vezes, o sentimento muda.
Se algum dia não dei conta de acordar mais cedo para minha sessão de escrita matutina antes de sair pro trabalho, já começo o dia me sentindo culpada e frustrada por esse grande “erro”. A mesma sensação de que sou incapaz surge quando mudo os planos e ao invés de realizar alguma coisa da listinha me rendo à procrastinação para ver um episódio mais de Grey’s Anatomy ou continuar lendo o livro preferido do momento. Por mais que eu ame escrever, em alguns momentos simplesmente não sai, meu corpo ou cabeça pedem outra coisa. E, por mais que eu consiga entender isso racionalmente, por dentro me sinto mal, como se ao deixar de fazer algo planejado estivesse dando passos para o lado inverso dos meus sonhos.
Sensações ruins também aparecem quando vivo situações totalmente opostas, como o que aconteceu no fim de semana passado. Era domingo e eu já tinha completado todas as atividades que estavam na agenda. Novos afazeres, só na segunda-feira. Me senti perdida de repente quando percebi que poderia fazer o que quisesse. E agora, como lidar com esse tempo livre? Isso de descansar e não ter que pensar, pensar, pensar, nem fazer, fazer, fazer, é desconcertante.
Depois de estar no dinamismo de uma semana produtiva, a súbita tranquilidade me assustou. Comecei a procurar coisas para fazer por fazer, sem que necessariamente tenham um sentido ou me causem prazer, sem que inclusive sejam produtivas ou conectadas com meus propósitos. Simplesmente não conseguia parar.
Como transformar o excesso em inspiração
Ainda acredito na força positiva que os objetivos têm e sei que provavelmente nunca poderia viver sem um propósito (ou vários) que me inspirem a ser uma pessoa e profissional melhor. Mas sinto sim que preciso me liberar desse peso que eu mesma invento de carregar, e permitir que meus sonhos me façam flutuar ao invés de me afogar neles.
Falar é mais fácil do que fazer, claramente, mas estou tentando melhorar. Uma das últimas coisas que provei e que tem dado um resultado interessante foi adotar o bullet journal como ferramenta de organização. De uma maneira muito simples e minimalista, esse estilo de planejamento me ajuda a ter uma agenda mais alcançável e enfocada.
Também estou aprendendo sobre a importância de descansar corpo e mente, e reservar momentos nos quais minha única meta é não ter meta nenhuma. Percebo que depois de algumas horinhas relax renovo as energias e posso continuar com minhas atividades com mais afinco, descansada e com ideias frescas.
Pra resumir, tudo é uma questão de equilíbrio e de ver a big picture. Propósito não é tanto sobre o fazer cotidiano, mas mais sobre o objetivo no fim do caminho. Por isso às vezes é preciso deixar a rotina de lado e visualizar o que quero alcançar lá no final. É aí que me lembro de porque quero ir até lá e do que esse sonho vai me dar. Assim, consigo me preencher inteirinha dele.
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