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Quando estarei satisfeita?

Quando vou me sentir contente?

3 min readJun 2, 2025
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Simples e puramente feliz? Satisfeita de verdade?

Quando era mais nova, pensava que me sentiria assim depois de alcançar os sonhos que sempre cultivei. Terminar a faculdade. Conseguir um trabalho bacana. Publicar um livro. Me apaixonar. Viajar.

Ao longo dos anos, fiz tudo isso e um pouco mais. Me tornei uma adulta independente. Me rodeei de pessoas maravilhosas. Publiquei não só um, mas dois livros. Construí uma vida e um lar ao lado de um companheiro incrível.

Sonhos alcançados, mas o sentimento de plenitude ainda não está por aqui.

O que falta?

Porque ainda sinto que não é suficiente? Que não sou suficiente?

Você também se sente assim?

Parece que há um pedaço de mim que ainda não encontrei e às vezes penso que nunca vou encontrá-lo. Um buraco no peito, uma pecinha do quebra-cabeça que não consigo fazer encaixar, talvez porque não entenda que forma tem, nem de que material está feita.

Além disso, vivo com medo de que tudo que já consegui desapareça. Como se a minha ingratidão não me fizesse merecedora. Como se essa insistência em não valorizar ao máximo tudo que já conquistei colocasse em risco todas essas vitórias.

Sonhos alcançados que não têm mais o mesmo sabor.

Essa busca incessante por algo que não conseguimos discernir, essa sensação de que não podemos simplesmente parar e desfrutar, que temos que seguir correndo, correndo, correndo em direção à próxima meta é algo muito millennial. Nossa geração foi bombardeada pela ideia de que somos únicos e incomparáveis, de que vamos a alcançar grandes feitos.

Mas que tão grandes são?, nos perguntamos.

Independente do tamanho daquilo que alcançamos, sempre parece que há um feito ainda maior para ser realizado.

Independente do tamanho das nossas façanhas, sempre parece que perdem o brilho a partir do momento que se tornam nossas. Pensamos “ah, se eu consegui isso então não era tão difícil assim”. E não nos permitimos sorrir.

Basta.

Não quero mais viver assim, não quero me sentir culpada e cansada o tempo todo. Quero celebrar esses sonhos que se materializaram e que hoje são de carne e osso, tão verdadeiros quanto eu, aqui e agora.

Então me forço a pensar não na minha realidade, mas na que vivia há cinco, dez, quinze anos. Me coloco nos pés daquela Regiane jovem adulta, adolescente, criança. Busco em minhas memórias a forma como pensavam, aquilo que sentiam. Trato de ver minha vida atual por meio dos olhos delas.

E assim que chego lá, tudo ganha mais cor. Me emociono ao interagir com meus “eus” do passado e contar a elas tudo que fizemos. De repente, tenho 10 anos e abro o maior sorriso do mundo ao segurar meus livros. Tenho 15 e fico boquiaberta ao conhecer todos os lugares para os quais já viajei. Tenho 20 e respiro fundo, aliviada, ao sentir a confiança e sabedoria que acumulamos.

Chegamos muito longe, lhes digo, e elas sorriem, encantadas. E me deixo contagiar pela sua alegria.

Não quero deixá-las porque sei que assim que eu voltar pra minha realidade a felicidade vai se dissipar devagarzinho. Não quero voltar a me sentir sozinha e vazia.

É nessa hora que decido fazer outra viagem mental e trazer alguém lá do futuro.

Em seu rosto vejo as marcas dos anos e seu corpo me conta que enfrentou muitas batalhas. Mas seus olhos são bondosos e seguros, e me sinto acolhida pela energia generosa que possui. Sem dizer nada, ela abre seus braços e tanto eu como minhas eus do passado corremos para ela. Seu corpo é cálido e sua voz nos acalma.

“Vai ficar tudo bem”, diz e sua voz é nossa voz, e sua força é nossa força.

Nesse momento entendo que a pessoa que fui e que sou ainda não é madura o suficiente, que ainda vamos continuar crescendo, mudando, melhorando. Compreendo que um dia serei mais confiante, que um dia acreditarei mais em mim, que os sonhos alcançados (e os que ainda alcançarei) vão ser valorizados como merecem.

Decido ser menos exigente comigo mesma e deixar o tempo fazer seu trabalho.

Quando abro os olhos, estou novamente sozinha, mas não me sinto assim. O calor daquele abraço, daquela troca entre a pessoa que fui, que sou e que serei, permanece em meu peito.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe alguns aplausos 👏

Outras histórias e meus livros em: regianefolter.com 💛

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Regiane Folter
Regiane Folter

Written by Regiane Folter

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português y español 🖋️ Compre meus livros em https://www.regianefolter.com/livros

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