Quando me senti velha
Não me senti velha quando fiz 30 anos. Nem quando as primeiras rugas surgiram ou quando percebi o corpo mudar. Não me senti velha quando comecei a reparar naquela dorzinha constante na lombar, nem quando passei a acordar cedo sem me esforçar nos fins de semana. Não me senti velha quando vi bebês se tornarem crianças ou crianças se tornarem adultos. Nem mesmo quando começaram a me perguntar quando seria mãe ou quando alguém me chamou de senhora pela primeira vez.
Me senti velha no dia que completou 20 anos da morte do meu pai.
20 anos…
20 anos é uma vida inteira. Em 20 anos virei outra pessoa. Mudei de trabalho, de país, de perspectiva — mais de uma vez. Fiz amigas pra vida toda, desfiz vínculos que pensei que seriam pra vida toda. Me casei, viajei, escrevi um livro. Fiquei bêbada, dancei, chorei, ri, provei todo tipo de sabor, li todo tipo de livro. Falhei, ganhei. Fiz tudo isso centenas de vezes.
Em 20 anos virei minha própria pessoa.
Será que meu pai gostaria de quem me tornei? Será que estaria orgulhoso? Seria tudo igual ou tudo diferente?
Engraçado. Ele me deu a vida e agora uma vida nos separa no tempo e espaço.
Fico imaginando se um dia teremos a oportunidade de sentar lado a lado e contar-nos todas essas coisas que nunca conseguimos compartilhar. Ou, quem sabe, quando encontrar o pedaço dele que seguro vive em mim, eu mesma possa me responder todas essas perguntas.
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