Sobre quem gosta de mim

(e se eu gosto de mim)

Regiane Folter
3 min readAug 19, 2022
People illustrations by Storyset

Você também acha a ideia de alguém não gostar de você assustadora?

Sinto um calafrio só de pensar.

É um medo bobo, eu sei. Afinal, num mundo com esse tamanho todo, habitado por essa quantidade insana de gente, não é nada realista pensar que todas as pessoas que me conhecerem vão gostar de mim. Um punhadinho delas, sim. Mas a grande maioria vai ser simplesmente indiferente. Querer bem (ou mal) alguém demanda tempo e energia. Não dá pra investir esses recursos escassos em todo mundo. Tem que selecionar com critério.

Por isso sei que é fato que uma porção da galera que cruzar o meu caminho definitivamente não vai ir com a minha cara. Eles podem não gostar da minha personalidade, das minhas ideias ou ideais, das minhas escolhas, do meu corte de cabelo, do meu gênero, etc… Podem ser coisas fundamentais ou sumamente superficiais, características que posso ou não controlar. Esses traços atraem ou afastam as pessoas ao meu redor e tá tudo bem.

Até porque, imagina viver toda uma existência enfocada em agradar todo mundo? É um trabalho de tempo completo gente, não dá. Já fiquei com preguiça.

Mas a teoria é sempre mais fácil de digerir que a prática, então quando estou com alguém que acho que não é muito meu fã, me sinto insegura. Termino tentando mudar a sua opinião sobre mim, não consigo evitar. Forço um sorriso, evito opinar, escondo aquilo que acho que poderia gerar um conflito.

No final das contas, me sinto uma farça. Essa flexibilização, essa mania de me cortar pra caber na caixinha de expectativas das outras pessoas me desgasta de uma maneira…

Quando eu era mais nova, não era tão consciente desse hábito nefasto de colocar as opiniões dos outros acima das minhas. Com os anos, graças ao contato com aquele punhadinho de seres amados que mencionei antes e ao meu próprio amadurecimento, percebi como esse comportamento me machuca. Hoje sou consciente, sim, mas quem disse que é fácil mudar?

Ser adulta é difícil. A gente percebe a realidade com maior discernimento, mas continua sem resposta pra nada. Pior ainda, nos afastamos da criatividade ingênua de quando eramos crianças e nem podemos inventar respostas de faz-de-conta.

Embora, se eu for honesta, algumas respostas eu já encontrei. Fui aprendendo a respirar fundo e a encontrar tranquilidade frente à ansiedade. Fortaleci minha voz e hoje não me calo como antes, nem concordo com coisas que vão em contra meus princípios. Descobri o prazer de manter meus amores aqui perto de mim e confiar em seus conselhos. Percebi que quando coloco minha energia em compartilhar momentos com eles e elas, me sinto muito mais feliz do que quando insisto em ficar me preocupando com as pessoas que não importam.

Ainda falho, obvia e miseravelmente. Ainda me vejo em situações desconfortáveis, nas quais me sinto acuada e intimidada, e termino repetindo o velho padrão de sorrir e acenar. Ainda tenho um longo caminho para recorrer e aprender sobre mim, sobre os outros. Ainda tenho muito que desaprender enquanto vou saindo do piloto automático e me torno mais ciente de minhas ações e reações.

Mas não quero só focar nos pontos a melhorar e sim celebrar as pequenas vitórias. As vezes que disse “não”. As conversas nas quais me permiti ser completamente honesta. Os momentos de pura constatação do que quero e sinto nas sessões de terapia. Todas essas situações quando a única opinião que realmente priorizei foi a minha.

Ser adulta também é entender que só dá pra mudar a partir da auto-aceitação. Então me abraço mentalmente e sigo em frente. Errando, acertando, mas nunca desistindo de mim.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏

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Regiane Folter

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros