Sobre uma consciência fragmentada

Dia 2 do experimento off redes

Regiane Folter
4 min readSep 29, 2021
https://www.instagram.com/zahersara/

Pra você entender de que se trata esse relato, recomendo ler esse texto antes.

Hoje começo contando que estou provando uma app chamada Notta que baixei ontem. É uma ferramenta que (na teoria) transforma o que eu falo em texto automaticamente. Quando li a descrição achei um babado bem futurista! Mas de futuro não tem nada, porque assim como a Notta já existem vááááárias apps que transcrevem áudios na hora. Você sabia? Achei incrível. Tô aqui falando e olhando a app pra ver se funciona mesmo, e parece que sim. Enquanto falo, as palavrinhas vão surgindo na tela e até que a app está acertando tudo. Duplamente surpreendida!

Bom, esse segundo dia sem redes foi um pouco mais difícil. Eu peguei o celular mais vezes, sempre pensando em entrar no Instagram. Mas não entrei, continuo aqui modo fortaleza. Não traí meu objetivo, embora seja um pouco frustrante. Com isso confirmo a minha teoria de que passo muito tempo no Insta. Acho que entro nas redes várias vezes durante meu dia como uma forma de escapar um pouco da realidade. Durante o dia, toda vez que quero dar uma pausa no que estou fazendo, dou uma espiadinha nas redes. Se estou numa conversa ou com mais pessoas ao redor, pego menos o celular. Mas, ainda assim, de vez em quando não resisto e dou aquela voltinha digital. Falo com as pessoas ao meu redor enquanto mexo no celular. Um olho lá, outro cá.

Se estou no ônibus, no Uber ou esperando em algum lugar, sinto uma urgência, uma sensação de que não posso estar parada quieta sem fazer nada. Não sei mais ficar sussa! Nesses momentos, a rede social surge com alguma missãozinha tipo “olha o que essa pessoa está fazendo” ou “olha onde fulano está” ou “olha o que essa marca está vendendo”… No fundo, a gente não tá fazendo nada de real ou útil; talvez algumas vezes sim, mas no geral acho que passamos boa parte do tempo somente nutrindo nossa mente com informação que não agrega e deixando de lidar com o que está rolando offline. Nossa consciência fica um pouco fragmentada.

Me incomoda quando isso acontece, quando não estou 100% presente naquele momento e lugar. Às vezes tô vendo um filme e no meio do negócio abro o Instagram. Nesse tempinho que estou atualizando o feed, perco alguns segundos do filme e fico toda perdida na história. Teve ocasião de eu ter que voltar algumas cenas pra entender o que tinha acontecido e assim não perder o fio da meada. Que coisa mais sem sentido! Por que é tão difícil estar duas, três horas sem abrir o bendito Instagram? Por isso digo, é vício. Deixou de ser algo que posso controlar. Me rendi à sensação de alegria que surge quando alguém me marca em um post, quando há comentário novo ou quando chega alguma mensagem. Minúsculas novidades que parecem tão irresistíveis!

Não quero que as redes tenham tanto protagonismo em minha vida. Quero transoformar esse impulso e, todas as vezes que quiser pegar o celular, ter a capacidade de parar e decidir fazer outra coisa. Olhar o que está ao meu redor, ir tomar um arzinho na janela, fechar os olhos e só me concentrar na minha respiração por uns segundinhos. Fazer algo real, concreto, ao invés de me perder no digital. Quero ser mais consciente do meu corpo, do meu entorno, das minhas possibilidades de estar comigo mesma ou com os demais.

Que importância os celulares ganharam em nossas vidas, hein! Estava pensando outro dia que no meu celular tenho tudo: meu principal canal de informação, minha caixa de correio, até uma carteira digital com toda minha informação financeira. Perder o celular implica uma dor de cabeça muito grande hoje em dia. Mas uma coisa também é verdade: existem coisas que não entram no celular. O toque e a presença compartilhada fisicamente não estão lá e nunca vão estar. Sei disso e por isso preciso desapegar um pouco do bichinho e re-aprender a viver sem ele. Relembrar como era uma vida sem tantas ferramentas digitais e também sem a ansiedade e o estresse que elas causam.

Além disso, minha jornada como escritora também vai se beneficiar de ter mais sensibilidade para o que tá acontecendo ao meu redor. Quero sentir mais as coisas reais para poder escrever sobre elas.

Continue lendo no dia 3.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏

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Written by Regiane Folter

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros

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