Somente um dia como outro qualquer
5h30, me levanto para dar comida pro gato que agora deu de pedir a ração a essa hora. Insuportável, mas obedeço. Se não quem consegue dormir com os miados insistentes?
7h, me levanto de vez, ainda sonolenta. Vou no banheiro, lavo o rosto. Então noto a notificação no celular. É uma mensagem longa, daquelas que o whatsapp até esconde uma parte. Aperto o “ler mais” com uma sensação de peso no coração. Não é uma mensagem linda. Me sento na sala, leio umas duas vezes mais. Estou tão frustrada que não consigo nem chorar. Ainda. O que é isso, um pedido de ajuda? Ou somente um desabafo de uma alma desesperada?
Vou até o quarto e me deito de novo. Abraço o homem que dorme ao meu lado, que come ao meu lado, que sorri pra mim todas as manhãs e que é o homem da minha vida. E que tem essa escuridão dentro dele, essa coisa terrível que o empurra para baixo e que faz com que me mande mensagens tristes de madrugada.
Ele está acordado, seguramente esperando minha reação à mensagem. Cheiro seu corpo quente do sono e finalmente choro. Ele chora comigo. Conversamos. Sinto muita tristeza e muito amor. Quero ficar abraçada com ele o dia inteiro. Inevitavelmente, temos que nos separar.
Das 9h às 18h o dia flui como sempre. Horário comercial, hora de trabalhar. Ocupo a cabeça e é bom. Às vezes, do nada, sinto que vou chorar de novo. Às vezes me esqueço de tudo, da mensagem, do cansaço, do calor do abraço dele, do medo que me dá quando a sua depressão ruge.
A vida segue, impiedosa como sempre. Compartilhamos o mate, contamos alguma fofoquinha do trabalho, rimos, falamos de bobages, do tempo, do gato.
18h, desligamos os notebooks e vamos até a padaria da esquina comprar algo para o lanchinho da tarde. Vejo televisão enquanto deixo a magia dos carboídratos me dar aquele gás.
19h, peço pra conversar. Digo o que penso e sinto, toco os pontos principais da mensagem. Ele fala pouco, mas promete pensar no que digo.
20h, me sinto entorpecida. Por um lado, aliviada de ter falado com ele, da gente ter essa capacidade de colocar em palavras o que sentimos, tanto escrevendo como conversando. Da gente poder tratar desse elefante no meio da sala, no meio de nós, e ver como a comunicação deixa o bicho menor, menos assustador. Mas, por outro lado, me angustia saber que ele se sente mal de novo. E que provavelmente vai se sentir mal de novo e de novo e de novo e de novo.
21h, tenho fome, como, logo sinto que vou vomitar. Respiro fundo, odeio vomitar. Relaxo um pouco, o sono vem.
21h30, um beijo e cama. Amanhã será um novo dia.
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