Tem dia que é difícil dormir
Às vezes me custa muito pegar no sono
Estou cansada, cansadíssima aliás, mas não consigo. Sinto o corpo esgotado, drenado de energia. Sinto o cansaço nos ossos, músculos e tudo que é físico. Mas algo acontece no meu interior mais profundo, na parte que não podemos tocar nem ver, que me impede de relaxar completamente. E essa partezinha que insiste em permanecer ligada no 220 é controlada pelo cérebro.
Minha cuca sempre foi muito dinâmica. Estou sempre pensando, imaginando, planejando, sentindo. Embora não possa ver essa massa cinzenta trabalhadora, sinto a sua intensidade e seu calor, como se dela irradiasse uma energia que nunca se apaga. Imagino meu cérebro todo decorado de luzezinhas que nunca param de brilhar. Sempre fui assim, desde a adolescência. Sempre quis muito e fazer muito é a forma que encontrei de dar vazão a todo esse querer.
Isso tudo é muito bacana quando é de dia e a vida está acontecendo em todo seu esplendor, quando tenho que trabalhar e correr atrás dos rolês. O problema é de noite, quando ponho a cabeça no travesseiro e tudo que mais quero é descansar, só que minha mente iluminada não está de acordo.
Na realidade, tudo que ela quer é pensar, pensar e pensar um pouco mais. Então penso. Penso no que aconteceu no dia, nas vezes que errei, nas vezes que acertei; penso no dia seguinte ou na semana seguinte ou no mês seguinte, ou em qualquer futuro e suas mil e uma versões; penso se o som que estou escutando vem dos vizinhos barulhentos ou da rua ou de onde será que vem? Penso, penso e penso um pouco mais.
E o sono, cadê?
Claro que durmo. Termino dormindo. Tem dia que é mais fácil, que consigo driblar a obsessão dessa cuca pensadora e me entrego à bruma deliciosa do sono em poucos minutos. Tem dia que é difícil, que passo horas dando voltas na cama e na mente, até que termino adormecendo por puro esgotamento. Algo sábio em meu corpo termina tomando as rédeas da situação e diz “basta”.
Dormir, durmo. Ainda bem, se não não duraria muito tempo nesse mundão. Mas me questiono se não poderia ter dias mais fáceis que difíceis. Ou só dias fáceis, imagina que sonho…
Acho que pra isso precisaria me acostumar com a ideia de perder o controle. Porque, no fundo, dormir está muito conectado com isso, com deixar de estar atenta e presente, com deixar tudo pra trás e se entregar a esse estado de inconsciência tão necessário. Mas, ao mesmo tempo, tão assustador. Somos vulneráveis quando dormimos, não sabemos exatamente o que vai acontecer enquanto estamos offline da realidade. Não gosto da sensação de incerteza, não gosto de não estar ditando as regras. Complexo de conquistadora mundial, eu sei. Detesto esse lado meu.
Insisto em dizer a mim mesma que se não descansar, não vou conseguir. Todos esses sonhos coloridos vão ficar cada vez mais distantes se eu não tiver a energia necessária pra correr atrás deles. Preciso fazer as pazes com essas horas noturnas de descontrole pra poder continuar dando as cartas de dia, quando preciso seguir em frente e realizar todas essas coisas que adoro ser e fazer.
Tem sido um processo de autoconhecimento e muita tentativa e erro. Tenho abraçado técnicas que teoricamente facilitam o sono, como deixar o celular de lado algumas horas antes de dormir, ir pra cama mais cedo, tomar um chazinho de camomila, etc. São coisas que ajudam, claro. Mas a batalha mais importante continua sendo a que travo comigo mesma. Deitada na escuridão, busco formas de apagar as luzes do cérebro e ir pensando menos, cada vez menos, até que a única coisa que resta é um desejo profundo de descansar. Tem dia que é fácil e minha mente se deixa convencer; tem dia difícil em que a danada quer discutir. Entre erros, acertos e bocejos, sigo em frente.
Um pouquinho mais perto do descontrole que preciso para poder continuar.
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