Tudo o que poderia ter sido, se…

Suposições que paralisam

Regiane Folter
4 min readAug 5, 2022

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Photo by Brian Ceccato on Unsplash

Às vezes penso em toda a energia extra que teria se não passasse tanto tempo dando voltas e voltas na cama antes de domir, pensando em tudo e nada, revivendo os erros do dia e maquinando sobre coisas que ainda não aconteceram. Minha ansiedade parece uma dose de cafeína que deixa meu cérebro no modo nitro e confunde o resto do meu corpo. Meus olhos que já não conseguem ficar abertos dizem “quero dormir”, meus braços e pernas imploram “quero dormir”, meu estômago dolorido pede “quero dormir”, meu coração apertado sussurra “quero dormir”. Mas os neurônios (e as neuroses) estão a 220 km/h, vivendo sua própria versão de Velozes e Furiosos na minha cabeça. Pensamentos rasantes, acidentes iminentes, perigo por todos os lados.

Quando chega o final feliz?

Às vezes fico pensando em toda a alegria que poderia sentir em um dia se não passasse uma boa porção dele me estressando por cada pequeno detalhezinho. Se não fizesse questão de controlar tudo, como se somente assim pudesse garantir que todas as metas serão cumpridas com louvor. Se não me preocupasse em um nível alarmante quando algo não sai como eu queria, quando erro, quando me atrapalho, quando outras pessoas erram ou se atrapalham. Quando somos só humanos e humanas. Me descabelo mais do que seria recomendável e sorrio menos do que seria necessário. Tudo seria diferente se pudesse enxergar o copo meio cheio. Mas não, só consigo pensar no espaço que fica vazio, e se o copo estiver meio trincadinho então… Ai, ai!

Todas as imperfeições que me rodeiam gritam que sou um desastre; por que é tão fácil acreditar nelas?

Às vezes penso nas atividades divertidas e significativas que poderia realizar ao invés de encher minha mente com os pensamentos negativos que comecei a alimentar quando ainda era criança. Eles cresceram junto comigo e hoje têm status de Pesadelos Particulares. “Você é uma farsa”, “você não é capaz”, “nunca vai conseguir chegar lá”, “suas ideias são horríveis”, “ninguém gosta de você”, “seu talento não existe”. Num dia ruim, são meus únicos amigos. Num dia bom, passam a maior parte do tempo dormindo, mas dão uma passadinha de vez em quando, só pra dar oi. Gostaria de pedir que se mudassem ou que mudassem sua forma de ser, que encontrassem uma forma de me criticar com mais carinho e de forma mais realista. Que me ajudassem a melhorar, sem me desacreditar de que posso realizar meus sonhos. Inclusive, já realizei alguns.

Por que será que me esqueço tão facilmente deles?

Às vezes penso em como poderia ser mais saudável se todas as vezes que ficasse doente não insistisse em ignorar o mal estar e continuasse mantendo o mesmo ritmo de trabalho e projetos e cuidados com a casa e cuidados com os outros e… Quando cuido de mim? Essa é a última prioridade e, entre um espirro e outro, um resfriado que poderia durar três dias passa de uma semana porque não me dou tempo pra me curar. Cada minuto “perdido” descansando é um minuto menos de vida, de realização, de feitorias.

Já tenho 30, não tenho tempo a perder! Será?

Às vezes penso em todas as histórias que poderia contar se não queimasse a cuca tentando tirar de dentro dela o texto perfeito, a frase mais polida, a gramática sem erros e sem vida. Se minha exigência comigo mesma fosse mais carinhosa, mais amigável. Se eu me abraçasse mais, ao invés de apontar continuamente os meus defeitos e rir deles. Com lágrimas nos olhos, mas rindo. Sem conseguir escrever, mas rindo, perversamente, de tudo que precisaria transformar em mim para ser alguém de verdade.

Não sou alguém hoje?

Não sou uma pessoa real? Serei só um amontoado de dúvidas e medos? Só uma sombra de tudo que poderia ter sido, mas não fui? E nunca serei?

E como faço para ser? Como faço para deixar de lado tudo que me machuca e transformar todos esses “e se…” em frases diretas, concretas, começo, meio e fim. Pronomes, verbos e adjetivos para florear? Como transformar todas essas ideias em verdades, todas essas versões mais serenas e felizes de mim em realidade?

As perguntas se multiplicam, assim como meus receios. Sigo buscando respostas e acalanto nas palavras, nos livros e nas mãos amigas que me resgatam de novo e de novo desse mar de frustrações.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏

Outras histórias e meu livro em: regianefolter.com 💛

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Regiane Folter

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros