Tá tudo caminhando
Não é que eu esteja triste.
Assim, triste TRISTE não estou. Mas também não me sinto feliz. Claro que não tem nada errado com não estar nem 8 nem 80. Entre a tristeza e a felicidade há um arco-íris de sentimentos, nem tudo é branco ou negro. Mas gosto de definições assim como gosto de ter o controle e ultimamente não to conseguindo controlar ou definir bem como me sinto.
Por isso, quando alguém me pergunta como estou, quase sempre respondo “tá tudo caminhando”. É uma resposta meio misteriosa que aprendi com minha mãe. Quando papai morreu, era assim que ela respondia quando alguém perguntava “oi tudo bom?”.
“Tá tudo caminhando”
Era sua forma de expressar com alguma positividade que não, não tava tudo bem, mas ficaria. O “tudo caminhando” reflete algo de esperança. É uma combinação levemente otimista, sem exagerar na dose. É afirmar que estamos aí na atividade, na luta, matando nossos dragões e, olha, não é fácil não. Mas, mesmo assim, seguimos em frente. Um passo de cada vez, em direção a um futuro mais sereno. Vamos devagar, devagarinho, mas sem voltar atrás. Sem empacar tampouco, sem dar lugar a uma paralisia que às vezes parece ser a única forma de escapar do que dói.
O “tudo caminhando” demonstra que escolhemos acreditar num mundo melhor, que ainda confiamos no universo, na sorte e no carma. Já tomamos muita rasteira, isso com certeza. Não achamos que tudo é cor de rosa, não senhora. Mas também não queremos ir pro outro extremo e pregar que o apocalipse chegou. Também não é assim. É só olhar pro lado e ver quantas pessoas vão levando a vida com menos privilégios e mais problemas que nós.
Então acho que o “tudo caminhando” de alguma forma quer expressar que não queremos ser ingratos. Não podemos nos queixar tanto assim, porque dentro de tudo há muita coisa positiva em nossas vidas. Também não podemos deixar de ser críticos porque dizer que tá tudo perfeito seria mentir. Isso não. Sejamos honestos aqui: não tá legal, também não tá horrível. E acredito que pode melhorar.
Tá tudo caminhando, sacou?
Essa é minha rebuscada interpretação, eu sei. Talvez vocês tenham outro significado para essa frase, provavelmente muito mais simples que o meu. Enfim. Só queria compartilhar essa reflexão porque escrever sobre ela me ajuda a aceitar o “tudo caminhando” e o que ele implica. Ando precisando aceitar meu coração meio pesado, a falta de motivação, o choro que surge do nada, a dor nas costas que remédio nenhum parece curar. Preciso ser mais paciente comigo mesma e praticar mais autocuidado, mais auto-amor.
Entender que tá sendo um momento difícil e que tá tudo bem se não estou dando pulos por aí como se estivesse estrelando minha própria versão de Unbreakable Kimmy Schmidt. Tá tudo bem em ir mais devagar, comer mais chocolate, precisar de mais abraços. Tá tudo bem com querer dar uma porrada em cada chato, abandonar a meditação pela Netflix, querer a companhia de uns poucos. Respira fundo e continua a andar, no seu ritmo, com suas dúvidas e mágoas. Respira fundo e vai.
Tá tudo bem. Ou melhor, não tá. Mas vai ficar.
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