Uma serenidade em revolução

Somos quem pensamos ser ou quem aparece nos olhos das outras pessoas?

Regiane Folter
4 min readMay 10, 2017

Conheci uma garota que sempre me dizia que eu transmitia serenidade.

Ela dizia que olhava pra mim ou falava comigo e logo se sentia mais tranquila. Eu parecia sempre em paz, sempre serena, sempre bem comigo mesma e com o mundo ao meu redor, sempre no controle, nos momentos bons e também nos ruins. Principalmente nos ruins.

Como ela, outras pessoas já me falaram coisas parecidas, sobre essa calma que sentem em mim, como se nas minhas ações houvesse uma paz intocável. Quando me dizem essas coisas não consigo evitar pensar na parte de dentro de uma igreja e sua silenciosa e opressiva paz que amortece os sentidos.

Não é estranho ter um lado igreja? É nisso que penso quando me falam essas coisas; na incongruência das suas palavras, de que vejam em mim coisas que eu não sinto ser.

Nunca me senti esse poço de tranquilidade e paz, muito pelo contrário. Me vejo como um furacão de ideias, pensamentos, vontades, ações. Sou tão inconstante sobre o que quero e faço! Sinto uma energia percorrer meu corpo com tanta força e rapidez, que quase não consigo acreditar que há pessoas que me enxergam de outra maneira. Que não percebem o que realmente sou. Que não sentem a vibração.

Estou sempre correndo, sempre fazendo algo ou pensando na próxima atividade. Estou sempre em um movimento ansioso e intenso. Me sinto assim, me vejo assim quando me olho no espelho. Elétrica. Nenhuma calma, nenhuma pausa. E ainda assim, tem gente que opina o contrário.

Realmente não sabemos quase nada sobre o outro, não é? É tão escasso nosso entendimento sobre as outras pessoas e como realmente se sentem. É tão mais simples julgar e acreditar em algo que vejo, mas que não necessariamente é o que o outro acredita ser.

Não que me incomode que os demais me vejam como algo que não sou. Nesse caso em particular, até me agrada. Tranquila é algo que sempre quis ser. Amo essa palavra, serenidade. Sempre quis ter mais dela no meu dia a dia corrido. Sempre quis me sentir calma e plena nas situações mais diversas. Sempre quis ter a tranquilidade necessária para pensar antes de agir, para controlar a minha impulsividade. Queria sentir essa paz intensa, que me protegeria das dores, dos problemas, das discussões. Queria ser assim, calmaria infinita que me ajudasse a vivenciar as coisas com menos intensidade ou negatividade. Queria ser essa pessoa, queria sorrir mais. Felicidade constante. Estar acima de coisas terrenas e mundanas, como brigas ou dificuldades. Sempre tranquila, sempre feliz. Essa é a versão de mim que adoro visualizar.

É normal externalizar algo que ambiciono, mesmo que internamente eu não seja assim? É verdade que quando paro pra pensar na adolescente inquieta e sonhadora que fui, realmente acredito que com o passar dos anos a ansiedade foi sendo controlada e eu amadureci em minhas ações. Aprendi a importância de ter foco, de fazer as coisas com atenção e calma, de ser cuidadosa e pedir ajuda antes de fazer algo sem pensar. Aprendi com a experiência que é preciso respirar fundo, descansar, controlar meu lado bipolar que, by the way, é algo que as pessoas mais próximas notam em mim. Elas sim sentem a revolução.

Talvez quem me conheça melhor realmente me veja com um olhar mais clínico e identifique mais facilmente minhas verdades. E é entre a garota tranquila e a garota em constante movimento que eu me equilibro: dois extremos que não me identificam totalmente, mas que de alguma maneira são parte de mim.

Essa é uma reflexão pessoal sem muito sentido, só um desabafo sobre o que a gente sente na raiz do nosso ser e o que aparece na nossa superfície. Os outros veem em mim o que querem ver e o que eu deixo entrever. Mas só eu tenho um entendimento completo e complexo do que sou, de quem sou. E de quem quero ser.

Não quero mudar totalmente, não quero deixar de lado as coisas que me acompanham desde sempre, porque foram estas características que de alguma maneira me ajudaram a chegar até aqui. E tampouco quero ser ingênua e pensar que uma mudança de personalidade seria a resolução de todos os meus problemas. Paz eterna e uma vida completamente feliz talvez tenham sentido para o Buda, mas acho que para ninguém mais.

Eu quero continuar e transformar, melhorar e manter. Quero ser como o mar, que sabe o momento de ser maremoto assim como sabe como ser espelho. Eu quero ser essa imensidão de sentimentos e ideias que se move, que vai e vem, que cria coisas novas e que também sabe a hora certa de se concentrar no seu interior, apaziguar-se e preparar-se para novas transformações.

Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏

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Regiane Folter

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros