Coisas que ninguém me ensinou
Mas que aprendi mesmo assim
Há coisas que ninguém nunca me disse pra fazer. Mesmo assim, eu dei uma de esponjinha e absorvi o que via no meu entorno. Coisas que meus pais faziam, outros familiares, amigos — todos aqueles que representam ou representaram algo importante em minha trajetória terminaram me ensinando alguma coisa sem nem perceber.
Alguns aprendizados foram bastante positivos. Aprendi a ter empatia, a acreditar no melhor das pessoas, a doar frequentemente meu tempo e coisas. Aprendi a votar, a não celebrar a ditadura, a questionar o mundo ao meu redor. Aprendi que um abraço pode curar, que devemos dizer o que pensamos, com assertividade sempre. Aprendi a escutar boa música e a aceitar o que é diferente de mim. Aprendi que cada um pode ter seus próprios gostos e amar da forma que achar melhor. Aprendi a fazer arroz sem queimar, a acumular livros, a beber sem passar mal. Aprendi a dar o meu melhor, por mim e por outros.
Alguns aprendizados não foram tão bons assim. Porque ao mesmo tempo que aprendia todas essas lindezas, também aprendi a ser insegura em muitos aspectos. Aprendi a ver meu corpo com olhos depreciativos. Aprendi a me sobrecarregar com o trabalho e o cuidado da casa. Aprendi a tomar toda a responsabilidade para mim, sempre. Aprendi muitos palavrões e a ter pouca paciência (principalmente comigo mesma). Aprendi a me viciar nas redes sociais, a fazer tantas coisas ao mesmo tempo que o cérebro chega a se embaralhar, a levar meu corpo e mente ao limite.
Como disse antes, todas essas coisas não me foram ensinadas conscientemente. Quando estamos crescendo (e olha que sigo crescendo) aquilo que vemos os outros fazendo é tão impactante quanto o que nos dizem pra fazer. Não quero com isso culpar as pessoas que me tem me acompanhado nessa jornada, não mesmo. Na realidade agradeço porque estiveram, porque tentaram ser sempre uma boa influência e cuidar de mim. Mesmo quando isso significou não cuidar tanto assim delas mesmas.
Não, o que penso de tudo isso é como deve ser difícil cuidar de uma criança. Educar um filho então? Nossa! Me questiono até que ponto eu poderia ser mãe. Mas essa é outra conversa.
Será possível desaprender algumas dessas coisas e aprender outras, a essa altura do campeonato? Eu quero acreditar que sim. Que assim como aprendi copiando os demais, posso definir novos moldes. Fake until you make it, sabe? Fingir até dar certo. Até chegar lá. Até aprender o que quero aprender e esquecer algumas lições.
Não sei até que ponto tive liberdade em aprender todas essas coisas que não me ensinaram. Talvez tenha sido a mais pura inércia que me levou a seguir os passos de outras pessoas e terminar um pouquinho mais parecida com elas, uma mistura de todas as qualidades e defeitos que conheci. Mas agora também sou gente grande e posso (e devo) praticar minha liberdade. Desenvolvê-la como um aprendizado mais e usá-la para moldear meu ser.
Dessa forma, usando a escrita como minha principal ferramenta libertadora, sigo buscando novos aprendizados. Me construo, me desconstruo, desarmo ideias e conceitos e volto a juntá-los, só para ver os resultados e sacar novas conclusões. Novas metas. Novas maneiras de continuar aprendendo até, finalmente, não poder mais aprender.
Obrigada por ler ❤ Se gostou do texto, deixe seus aplausos (de 1 a 50)
Meu livro AmoreZ 📒|Newsletter ✉️|Instagram 📷|Cafezinho ☕️
Mais histórias: