Insônia e solidão
Às vezes me sinto sozinha, como se fosse a última pessoa viva no planeta
Sozinha como se estivesse distante de todos que amo e de tudo que me faz feliz. É uma sensação que geralmente surge quando perco o sono e, deitada na cama de olhos arregalados, não consigo encontrar sentido em nada, nem no descanso. Meu fiel companheiro gatuno sempre está comigo na hora de dormir, deitadinho aos meus pés. Ainda bem, porque sinto no calor do corpinho felpudo um pouco de aconchego. Mas não consigo escapar do sentimento de perda, da ideia de que ali, no escuro, eu já não tenho nada que me faça sorrir.
É uma emoção totalmente exagerada, racionalmente eu sei disso. A apenas alguns passos dali está meu companheiro, pronto pra me confortar quando e quantas veces for preciso. O resto da minha família está a poucas mensagens no Whats App de distância e, mesmo que geograficamente afastados, eu sei que posso contar com eles a qualquer hora. Mesmo assim, nesse momento sombrio, não procuro por eles. Não busco ninguém. Contemplo o teto, escuto os ruídos da rua e as batidas do meu coração e penso, “que sentido há em tudo isso?”.
Que sentido há quando tanta maldade nos rodeia?
Que sentido pode haver nas notícias sobre mais um caso de violência de pessoas contra pessoas, animais ou a natureza?
Por que seguimos insistindo em viver num mundo tão caótico e desprovido de humanidade?
Nessa hora só me lembro de coisas macabras e sombrias. Penso no documentário sobre um serial killer que vi na hora do almoço. Lembro do post que a ONG de proteção aos animais que acompanho publicou mais cedo contando sobre outra situação de maltrato. Me recordo de tanta informação triste, tanto descaso e agressividade… E me sinto impotente, frustrada, apenas uma formiguinha frente a uma imensidão de terror.
O peso do mundo quebrado no qual vivemos parece insuportável e me esqueço daquilo que tenho de doce em minha vida. Por alguns minutos (ou horas, dependendo da insônia), me aprisiono em ideias desconexas sobre a crueldade que há nesse planeta e me questiono que tanto estou fazendo para mudar isso. Ou para, ao menos, não contribuir tanto com o que está errado.
Às vezes a desesperança me acompanha até meu corpo cansado apagar e durmo um sono sem sonhos. Ou repleto de pesadelos. Mas, em algumas ocasiões, encontro uma pequena luz dentro de mim e me agarro a ela com todas as forças. Me forço a me lembrar de algo bom que vi naquele dia, alguma boa ação que presenciei ou que chegou até mim através de outra pessoa. Repasso uma história positiva que li nos jornais ou que me contaram. E permito que esse pontinho luminoso cresça, apaziguando pouco a pouco o desespero. Às vezes faço uma prece ao universo, agradecendo pelo que tenho e pedindo paz de espírito. Às vezes simplesmente mergulho em uma boa lembrança e me permito respirar fundo, para serenizar.
Um dia após o outro, sigo buscando sentido. Às vezes a perseverança esmorece e algumas noites parecem mais escuras que outras. Mas no fundo sei que o amanhecer sempre vem e que posso contar com sua luz pra afugentar os medos e as dúvidas e continuar caminhando.
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