Oi Deus

Ou seria Deusa?

Regiane Folter
3 min readJul 24, 2020
Photo by Billy Huynh on Unsplash

Que estranho soa dizer isso, que estranho é falar com você. Ou seria Você?

Nunca soube muito bem como me dirigir a Deus, porque nunca me encontrei nas religiões com as que tive contato. Aprendi a rezar a Ave Maria e o Pai Nosso quando era pequena mas, embora saiba as palavras, não costumo recitá-las.

Até que ontem fiz. Ontem à noite, rezei. Depois de não sei quantos anos, fechei os olhos, juntei palma com palma, e comecei assim. “Oi Deus”. Pouco ortodoxo, mas juro que era de coração.

O que me motivou a entabular essa conversa foi um momento de dificuldade. Basicamente, rezei por duas razões: para pedir algo e para encontrar paz. Um pouquinho egoísta, eu sei. Mas não me arrependo porque funcionou.

Quando tento conceber em minha mente o que é Deus, é impossível delinear traços físicos. Seria ele ou ela? Teria um corpo? Olhos? Sorriso? Não sei. Tudo que posso imaginar é uma bola de energia massiva e abstrata. Tipo um Big Bang do bem, saca? Também consigo vislumbrar suas qualidades. Simplesmente sei que Deus (se existe) é um bom ouvinte e possui um infinito amor.

Por muitos anos duvidei. “Será que Deus existe mesmo?”. Li, aprendi, me indignei com as igrejas e seus interesses profanos. Me questionei se Deus não seria somente uma invenção, uma ferramenta mais para oprimir e controlar. Porém, devido a algumas dores que surgiram em meu caminho, terminei recorrendo à minha própria versão de Deus. Me vi necessitando bondade e consolo. Meu coração não precisava de religião, precisava de fé.

Confesso que não acho correto rezar só para pedir e apaziguar os momentos difíceis. Tá tudo bem ser atéia na alegria, mas na tristeza busco redenção? Não, acho que crer deveria ser parte do cotidiano e conversar com Deus uma atitude tão comum como dar bom dia àqueles que vivem conosco. Rezar para pedir, para agradecer, para encontrar sentido, para curar, para desabafar. Falar com esse ser-energia e confiar que é feito de pura bondade, empatia, amor, sem um rastro de má qualidade ou julgamento. Tudo que queremos ser, mas não somos.

Por isso, me proponho a continuar com essa conversa, já que a iniciei. E não somente falar com Deus, mas também tratar de enxergá-lo, não necessariamente em um altar ou afresco (embora tudo bem encontrá-lo nesses lugares), mas ser capaz de ver Deus no amor que sentimos por aqueles que nos acompanham. Nos momentos de pura felicidade. Na força que repentinamente sentimos quando estamos passando por uma situação ruim. No alívio depois de muito chorar.

Afinal, gosto de pensar em Deus como a parte boa. O lado azul. A força positiva que persiste no mundo, ainda com todos os problemas que esse planetinha tem. Não se trata de um ser supremo e superior, mas sim de uma energia revigorante que habita todos nós. E, como parte nossa, está sempre pronta para nos escutar. Por isso, respiro fundo e começo.

Oi Deus.

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Written by Regiane Folter

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros

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