Uma existência (e escrita) burocrática
Dia 4 do experimento escrevendo à mão
Não leia esse texto sem antes ter lido os dias anteriores:
Agora sim :)
Aqui de novo! Mesma hora, mesmo canal, etc etc. Hoje escrevo enquanto tomo um mate e como umas Oreos, então vou um pouco mais lenta com a escrita. Além disso, é quinta-feira. Venho dormindo mal e foi um dia cheio. Tô cansadona. Acho que não vou conseguir escrever muito hoje.
Aliás, quando decidi que era hora do registro diário desse experimento, não consegui começar de uma vez. Tive que levantar mil vezes pra resolver problemas inesperados. Você já reparou como parece que tem dia feito de problemas inesperados? Um incêndio atrás do outro. Nos últimos 20 minutos tive que ir ver meu gato várias vezes, que tá com dor de barriga e fez cocô no tapete da sala, miando com toda a potência que seu pulmãozinho permite. Fui lá, limpei, esquentei a água do mate de novo porque já estava ficando fria, voltei a pegar na caneta. Será que agora vai?
Quero tentar, mas também quero encarar as coisas com calma. Não quero me forçar a escrever por escrever, quero ter um porquê e quero aproveitar do processo. Hoje percebi que há um bom tempo não escrevo para aproveitar, mas sim para cumprir. Entrei num loop de metas e auto-exigência, e o escrever gostoso foi descendo na escala de prioridades até ficar quase esquecido no porão da minha cuca. De vez em quando ele reaparece, mas só de vez em quando mesmo. O mais idiota de tudo isso é que os meus melhores textos nasceram de uma escrita feliz. Ou seja, sou melhor nisso quando escrevo desfrutando da coisa!
Fiquei um pouco chocada quando percebi isso. Que fácil foi me esquecer de escrever com o único objetivo de me divertir, de me sentir bem. Sempre associei a escrita com minha felicidade, mas na hora do vamos ver foi simples entrar na loucura do dia a dia, das coisas pra fazer e conquistar, das metas pra resolver e dos BOs pra resolver. E fiquei por lá, atada ao fazer/resolver/superar, em uma existência (e escrita) burocrática.
Tenho certeza absoluta que se escrever deixar de ser algo que faço por amor, não conseguirei me dedicar a isso por muito mais tempo. E me apavora a ideia de me perder desse propósito. Se não escrevo, o que faço? Se não sou escritora, o que sou? Demorei pra me ver como escritora, mas agora que me assumi assim não vejo outras opções, e nem quero.
Mas será que tem sentido me colocar numa caixinha, abraçar um rótulo e me obrigar a ser só isso? Não somos muitas coisas ao mesmo tempo?
Outro dia de muitos questionamentos mas, repito, estou cansada. Não tô com psique pra pensar em respostas pras minhas dúvidas existenciais. O que sim quero é voltar a me deliciar com a escrita, voltar a encontrar conforto nesse ato que tanto me moldou. Quero escrever e sentir prazer nisso, no processo inteirinho. No antes, no nascer das ideias; no durante, no trabalho peso pesado de colocar as palavras pra fora e ir lapidando uma a uma, encontrando a melhor forma de fazê-las brilhar; e no depois, ao ler e sentir orgulho do que criei.
Acho que esse experimento está ajudando com isso. É uma forma de me re-conectar com a escrita, de re-encontrar as razões pelas quais comecei a escrever e nunca mais parei. Também acho que preciso de mais experimentos assim, que me tirem da inércia, da rotina, das garras dessa profunda ansiedade que me quer sempre em movimento. Que me façam parar e ver as coisas desde um ponto de vista mais arejado e despoluído.
Olha só, até que hoje escrevi mais do que pensava que conseguiria.
Continue lendo sobre esse experimento no último texto da minha saga.
Obrigada por ler ❤ Se gostou, deixe seus aplausos 👏
Mais histórias em: regianefolter.com 💛